domingo, 21 de junho de 2015

O EXPLOSIVO 'CLASSIC ROCK' DA GRANMOSTARDA

Banda carioca faz um rock direto, cru e honesto inspirado nas raízes do rock


Por Gustavo Torres


Da esquerda para a direita: André Falcão (baixo), Lucas Lugosa (bateria, vocal) e Farrah Sento Sé (guitarra e vocais)



         Há mais de seis anos a banda carioca GranMostarda faz shows e trabalhos no underground carioca. Com letras e músicas influenciadas pelo classic rock (Mutantes, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Led Zeppelin dentre outras) azeitando a fórmula, Farrah Sento Sé (vocais, guitarra), André Falcão (baixo) e Lucas Lugosa (bateria) fazem parte de uma safra de bandas que não deixa o rock morrer no meio de um mercado cada vez mais competitivo e comercial.

    O DNA da GranMostarda surgiu em 2009, quando Farrah criou a banda ao lado de Pedro Selector (trompete) e Robson Riva (bateria). Devido a uma agenda apertada com o rapper BNegão, Pedro e Robson acabaram saindo da banda dando lugar a André Falcão no baixo e Lucas Lugosa na bateria. Lucas já tocava com Farrah em um outro projeto conhecido no cenário alternativo carioca, a ELEPÊ (Escola de Livre Expansão do Pensamento que durou de 1999 a 2005), que também tinha no baixo, Flavia Couri, que posteriormente com a dissolução do grupo entraria na banda Autoramas.
  Com essa bagagem, Farrah e Lucas deram continuidade a GranMostarda e participaram do projeto OI Novo Som de Estúdio e contaram com as participações especiais dos amigos Pedro Selector no trompete e André Ramos (Orquestra Voadora) no sax barítono. Felipe Zenícola tocava baixo nessa fase. A entrada de André Falcão em 2012 foi a última alteração na formação da banda.

Com diversos shows pela cidade do Rio (no Circo Voador foi o primeiro deles), a GranMostarda segue agora forte como um trio: Lucas Lugosa (bateria, vocais), André Falcão (baixo) e Farrah Sento Sé (vocais, guitarra).

Para contar mais detalhes dessa explosiva banda, o blog Torres de Som bateu um papo com o guitarrista e vocalista, Farrah.


 As canções da GranMostarda tem características de rock visceral, clássico. 
Qual é a receita de ter um diferencial no meio de tantas influências no mundo do rock?
Acho que pelo fato de apresentarmos um material autoral e inédito, acabamos por nos inserir num contexto contemporâneo. Na verdade abordamos assuntos atemporais. No caso da sonoridade prefiro que fique a critério de cada um ouvir as músicas e interpretá-las como quiser.

Como é o processo de criação das músicas de vocês?
A GranMostarda vem apresentando composições que vieram sendo feitas no período entre 2009, ano em que montei a banda com o Robson Riva e o Pedrão (Pedro Selector) até 2015. Acontece que com a chegada do Lucas acabamos reaproveitando algumas ideias que já vinham sendo praticadas na época da E.L.E.PÊ, incrementando o repertório, que ao meu ver ganhou muito em qualidade e também em quantidade. As composições são na maioria das vezes, ideias que apresento ao grupo e que vão se firmando a medida que tocamos e improvisamos nos temas.


As experiências de cada integrante em tocarem em bares, festivais undergrounds e casas de show puderam dar mais riqueza nesse processo de criação?
Com certeza, ao vivo pode-se ter a justa medida da resposta do público a uma determinada música, percebendo se a música funciona ou não. Somos uma banda essencialmente de show, uma banda ao vivo, e curtimos mesmo, no meu caso mais do que tudo nessa vida. Poder estar em cena, tocando, apresentando ideias, plantando interrogações, enfim, fundindo a cuca do sistema com o rock da GranMostarda.



Você tem além da GranMostarda um novo projeto com o Formigão (baixista do Planet Hemp), a banda Ladrão, correto?
Estou na banda Ladrão faz um ano agora. Eu já conhecia o Formigão nas noites da Lapa, Laranjeiras e tal, e acabei assistindo um show da Ladrão numa ocasião no Espaço Acústica, na Praça Tiradentes, em 2012, e ouvi várias vozes, sons de guitarras na minha cabeça, já pensando nos arranjos que eu tocaria caso viesse a integrar a banda, a ponto de comentar com o Lucas (Lugosa): "Cara, ouço várias vozes de guitarra iradas nessas músicas! Por quê o guitarrista deles não está fazendo?" Resposta óbvia: "Por que não era eu" (risos)...então, aconteceu do guitarrista da Ladrão viajar para São Paulo e morar lá, e o Formigão e o Daniel (baterista, vocais e programações) começaram a testar vários guitarristas pro lugar do Guiga, até que a banda entrou num hiato e quase acabou. Nesse período sempre que eu encontrava com o Formigão combinávamos de um dia fazer um som juntos, mas nunca rolava. Até que um dia numa das minhas idas à Praia Vermelha, na Urca, encontrei o Daniel - até então só nos conhecíamos de vista - e ele me disse que o projeto da banda Ladrão estava parado depois de tentarem diversos guitarristas para o posto. Aquele show no Espaço Acústica nunca saiu da minha cabeça e quando Daniel revelou que a banda estava parada me ofereci pra tocar, foi daí que ele me mandou as músicas para eu sacar a ideia do som, me dando toda a liberdade para interpretá-las como quisesse. Os dois são muito generosos, me deram carta branca e acabamos por rearranjar todo o material que me tinha sido enviado, funcionamos muito bem juntos. Hoje, sei que entrei para banda no momento em que vi aquele show no Espaço Acústica. As vozes da guitarra que eu ouvi eram muito boas e preciosas para eu desperdiçar não estando na Ladrão, de maneira que são as mesmas 'vozes' que coloquei na hora de me efetivar no projeto. Uma curiosidade da Ladrão é que a banda estreou no festival MOLA (Mostra Livre de Artes) do Circo Voador na mesma noite em que eu estreei com a GranMostarda, uma banda tocou depois da outra, literalmente.



Vocês usam bastante as plataformas web para disseminar o trabalho de vocês: Facebook, YouTube, Soundcloud, etc.. Esse realmente é o grande caminho para quem está começando no mundo da música tendo uma liberdade maior fora de um selo ou gravadora?
Com certeza os meios de divulgação na web são os mais importantes e inovadores meios de se chamar atenção ao que quer que seja hoje em dia. São ferramentas a mais, que vêm somar com o boca a boca, o jornal impresso, as revistas, TVs, rádios, afinal de contas, o objetivo é atingir o maior número possível de seres humanos. Queremos disseminar a nossa música por infinitos cantos.



A canção e o clipe de "Um Pôr Do Sol Nas Minhas Mãos" tem influências do rock psicodélico, qual é a mensagem da canção? Quais as influências diretas nessa música?
Essa canção surgida de um riff de guitarra que eu sonhei, fala sobre a evolução espiritual do homem e a emanação do Prana em sessões de curas espirituais. Os ecos que ela emana são de Albert Einstein, Chico Xavier, Jimi Hendrix e da minha relação mediúnica com a Umbanda. Eu diria que pessoalmente, vejo ela dessa maneira.



O GranMostarda disponibiliza na web todos os álbuns independentes da banda no site zamus (link no fim dessa matéria), e uma curiosidade é a cover de "Motor Maravilha" da cultuada banda brasileira de rock psicodélica, Bango. Vocês acham importante o resgate da qualidade dessas bandas nem sempre lembradas pelos fãs do rock nacional?


   Nós curtimos os marginais, a galera que sempre tocou rock à margem desse mainstream confuso e duvidoso. Percebo que muitas das bandas que são minhas preferidas no âmbito nacional não tiveram tanto reconhecimento por parte das pessoas como eu gostaria que elas tivessem. Curtimos tocar materiais de bandas mais undergrounds como a Patrulha do Espaço, Aeroblues, O Peso, Sangue da Cidade e Bango (banda egressa da Os Canibais, que fez parte do movimento da Jovem Guarda), porém, sempre imprimindo nosso próprio arranjo para as canções, nossas interpretações e visões sobre elas. O mais engraçado é que a gente toca essas músicas e as pessoas pensam que são nossas. É nessa hora que meu propósito se intensifica, porque daí, explicamos e ajudamos a apresentar um velho/novo som que eu sempre curti, para um monte de gente que achava que o 'Rock Brasil' começou apenas nos anos 1980. Mesmo Os Mutantes, famosos hoje mundialmente devido a força de David Byrne, a meu ver poderiam ser muito mais valorizados em território nacional. Rock no Brasil ainda é um nicho.Tem muitas bandas, a galera tenta e tal, alguns conseguem, mas vejo a coisa ainda em seu momento 'breakfast', ainda estamos acordando. E eu quero muito saber como será a hora do jantar.



Há previsão para o lançamento de um álbum convencional? Vocês estão abertos para negociarem com algum selo independente ou gravadora?
  Aberto nós sempre estamos, sempre estivemos e acredito que sempre estaremos, mas ainda não tivemos a oportunidade, temos um EP com oito músicas, um álbum ao vivo, gravado na Audio Rebel cujos vídeos estão no YouTube, e estamos acabando um single com duas músicas para um lançamento até o fim do ano. Por enquanto nós preferimos disponibilizar para a galera via web mesmo, de grátis, no caso do site da Zamus. Aí entra a minha ideia sobre a quebra de patentes, algo mundial, muito maior que qualquer um de nós, onde a filosofia é de que qualquer criação de um ser humano deva ser patrimônio da Humanidade, e isso é parte da correria de uma galera que me associo e que trabalha na intenção de amenizar as catástrofes causadas pelo acúmulo e pela falta de capital. Pensamos que a Humanidade só vai ficar numa boa quando acabar o dinheiro, mas enquanto isso, que ele também não nos falte (risos). Vale a pena lembrar que a outra banda que estou tocando, a Ladrão, acabou de lançar o clipe da música "O Preço", que tem o seguinte refrão: "Nem todo mundo tem seu preço"!



Com uma respeitável experiência no cenário underground carioca, como a banda enxerga esse cenário atualmente? Sentem uma certa falta de identidade nele?

   No momento sinto uma busca de identidade por parte das trocentas bandas que existem pelo menos aqui no Rio, onde moro e atuo com mais frequência. Essa busca pode ser percebida de maneira mais clara através dos Coletivos que vêm se organizando como o Suburbanagem, que atua no underground do Rio há mais de 15 anos a partir de Vista Alegre, a Rádio Comunitária, a organização de shows e eventos na Lona João Bosco, o pessoal da Maré que também faz rock e organiza a Lona Herbert Vianna e a galera que faz a Lona Cultural Chacrinha que fica em Pedra de Guaratiba. Com essa gente nós temos um contato estreito e relações de amizade. Na Zona Sul não sei se existe esse tipo de organização, estou por fora mesmo, porque me parece que o pessoal da Zona Sul do Rio pensa de uma outra maneira que eu ainda não sei qual é. Agora, observo que lugares para tocar existem, mas a remuneração para tocar quando existe, não é digna, falo do underground, e os coletivos podem ser sim uma maneira de se auto produzir e angariar fundos válidos. É tudo fruto do desespero que se tem para conseguir realizar-se plenamente dentro dos objetivos de vida de cada um enquanto músicos, embora isso seja válido para todos os setores da sociedade. Outra galera também que merece ser citada é a galera que atua na rua, e aí extrapola até o meio musical visto que observamos poetas e circenses, coisa que você não via com tanta intensidade na década de 1990 por exemplo aqui no Rio de Janeiro. Acho que o momento 'breakfast' que citei antes é isso, o momento em que todos estão ainda engatinhando e tentando se agrupar, organizar e tentar criar uma identidade. Só não pode é segregar ou se achar melhor que alguém porque faz determinado serviço bem, ou muito bem, mas isso eu acabo generalizando para toda a nossa sociedade, uma coisa mais filosófica-social mesmo, que ao mesmo tempo pode ser analisada dentro do campo artístico,mas também pode ser analisada em qualquer instância da nossa sociedade.


Acreditam que pela fase que o país passa, o rock nacional possa voltar com força como foi nas décadas de 1970 / 1980?
Acredito que o rock n roll seja uma banda tocando numa garagem e que nós jamais iremos ouvir falar dela, o resto todo é o underground (risos).




 GranMostarda - "Um Pôr Do Sol Nas Minhas Mãos"





Blog oficial da banda: http://granmostarda.blogspot.com.br/

Registros de estúdio e ao vivo  http://za.mus.br/artist/view/102






 




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