Por Gustavo Torres
O Faith No More finalmente está de volta, lançando seu novo álbum "Sol Invictus" no dia 19 de maio desse ano. Mike Patton e cia conseguem fazer de sua nova obra uma volta no tempo. O próprio baixista Bill Gould já tinha declarado à imprensa que a ideia do grupo de São Francisco, na Califórnia, era claramente voltar a sonoridade do 1° álbum quando eles já soavam experimentais, misturando heavy metal, punk, rap e soul.
No começo a banda se chamava Faith No Man, liderado por Mike 'The Man' Morris que durou entre os anos 1979-1982. O término aconteceu quando o resto do grupo, insatisfeito em estar com Morris preferiu formar uma nova banda ao invés de demiti-lo, esse foi o começo do Faith No More. Diversos vocalistas foram testados nos ensaios do então novo grupo e uma história curiosa nessas experiências foi quando Roddy Buttom (tecladista) pediu a Courtney Love que se retirasse da banda em sua passagem breve nos vocais, pois os mesmos buscavam uma identidade masculina ao FNM.
Faith No More - "Blood" c/ Courtney Love no vocal
A substituição por Mike Patton em 1989, consolidou a formação que sobrevive até hoje do FNM. O sucesso explosivo de "The Real Thing", de 1989 levou a banda a festivais gigantescos (inclusive a passagem vitoriosa por aqui do grupo no Rock in Rio de 1990), e contava com os poderosos singles "Epic" e "Falling To Pieces", e seus vídeos, não saiam do repeat da programação da MTV.
Faith No More - "We Care A Lot" c/ Chuck Mosley no vocal
Faith No More - "Epic" c/ Mike Patton
Faith No More - "Falling To Pieces"
Abandonando a sonoridade funk metal no seu quarto álbum, "Angel Dust" (1992), estilo esse que outras bandas californianas seguiriam desde sua formação como o Red Hot Chili Peppers e o Jane's Addiction, o FNM surpeendeu público e crítica ao lançar um disco com letras mais mórbidas e sombrias. Com mais autonomia no processo criativo, Mike Patton apontou novas possibilidades ao grupo que já tinha desde o seu início a experimentação como uma de suas virtudes no rock. "Small Victory" foi bem executada nas rádios e a cover do hit "Easy", dos Commodores, caiu nas graças dos fãs. Mesmo que "Angel Dust" não tivera o mesmo sucesso de "The Real Thing", Mile Patton e sua trupe conseguiram mostrar que a banda tinha uma identidade forte e que poderia sim dar um recado desaforado para um mercado cada vez mais comercial, cercado pela força de revistas especializadas e da MTV americana.
Faith No More - "Small Victory"
Faith No More - "Easy"
Após anos em turnê e com a saída do guitarrista Jim Martin em 1993, o FNM vivia uma crise interna, principalmente pelo estresse e cansaço de diversos shows e a falta de direção para o lançamento de um álbum novo. Mike Patton lançara o projeto paralelo, Mr. Bungle, em 1991 e a partir de então, o músico sentia toda a liberdade em soltar sua criatividade nas experimentações de outros gêneros musicais, como o jazz, o soul e o eletrônico. Mas graças ao Mr. Bungle, Patton conseguiu o novo guitarrista do Faith No More, Trey Spruance, que tocara com ele no projeto paralelo e que topou o desafio, unindo-se aos seus novos companheiros.
"King For A Day...Fool For A Lifetime" saiu em 1995, e mais uma vez, mostrou ao mundo o lado 'camaleão' do grupo, com faixas pesadas, "Digging The Grave", e inusitadas, como a ótima balada "Evidence". A banda passou pelo Brasil neste mesmo ano no festival "Monsters Of Rock", em São Paulo, que também contou com as participações de Ozzy Osbourne, Alice Cooper e Megadeth. Tirando os fãs devotos do grupo, o álbum "King For A Day..." não empolgou muito as massas e a turnê chegou a ser cancelada pela metade na Europa.
Faith No More - "Digging The Grave"
Faith No More - "Evidence"
O FNM começou a se desmembrar com cada integrante fazendo um projeto diferente do outro: enquanto Mike Patton caia de cabeça no gênero avant-garde com seu Mr. Bungle, o baterista Mike Bordin começou a tocar com Ozzy Osbourne e Roddy Bottum formou a banda paralela, Imperial Teen.
Com rumores do término da banda cada vez mais forte na imprensa, o baixista Billy Gould teve a missão de recrutar mais uma vez um guitarrista, desta vez, John Hudson, a incentivar a produção de mais um álbum.
"Album Of The Year" sai em 1997 e teve uma recepção fria da mídia e dos fãs da banda, Mike e cia não apresentavam um vigor tão sincero quanto nos álbuns anteriores, pincelando momentos inconstantes e aparente estafa derivado dos projetos paralelos de seus integrantes. Enquanto o mundo se voltava para o declínio do grunge, pós-Nirvana, o Faith No More sairia dos holofotes com um álbum quase que indecifrável. "Last Cup Of Sorrow" foi um dos singles de trabalho e um video clip foi feito. Apesar de um disco não tão aceito a banda continuava algariando mais fãs com seus shows divertidos e competentes, misturando canções de todas as fases da banda.
Faith No More - "Last Cup Of Sorrow"
O hiato do FNM começou quando os projetos paralelos do grupo se tornaram protagonistas das respectivas vidas de seus integrantes. Somente em 2009, o FNM voltou a fazer apresentações (a primeira no Brixton Academy, em Londres) passando mais uma vez pelo Brasil no mesmo ano nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em 2011, foram escalados para a segunda edição do festival SWU em Paulínia, em São Paulo quando apresentaram a canção então inédita, "Matador", que veio a entrar no novo álbum "Sol Invictus". Com esse sinal, a banda começava a ganhar uma sobrevida após longas tempestades em sua trajetória. Um tweet no perfil oficial da banda formou um mistério com a mensagem: "A reunião havia sido ótima, porém é chegado o tempo de sermos mais criativos". Tudo não passou de uma jogada criativa para o lançamento, após alguns meses, do novo single, "Motherfucker". Na sequencia, lançaram "Superhero", fazendo uma tríade para o lançamento de um novo álbum e agendamento de mais shows, simbolizando um retorno próximo do grupo.
"Sol Invictus" chega trazendo aos fãs do Faith No More tudo aquilo que se espera deles: sonoridade crua com elementos eletrônicos, pouco de funk metal, mesclando a primeira fase da banda (meados de 1980) assim como as experimentações de "Angel Dust". O som do piano da faixa-título, "Sol Invictus", com a voz sussurrante de Patton, em plena força vocal, demonstra a estranheza sonora típica que o FNM curte em fazer. "Superhero" mostra um rock pesado misturado com um piano que parece que saiu de alguma banda de rock progressivo. "Sunny Side Up" lembra um pouco o peso de "Digging The Grave", mas soando mais atual , passeando pelo nu metal, tão conhecido por bandas que foram influenciadas pelo Faith No More, como Korn e Limp Bizkit. "Separation Anxiety" lembra as estranhezas do projeto de Patton, o Mr. Bungle, que junta um acorde pesado interrupto de guitarra, explodindo em um refrão de gritaria e sussurros. Lançado de forma independente, mas com registros no Soundcloud, Rdio e Spotify, "Sol Invictus" tem distribuição no Brasil pelo selo Voice Music, e sela de uma vez por todas a volta de uma banda importante para o cenário do rock , que tem novas datas marcadas de shows pelo Brasil, em São Paulo, no Espaço das Américas e no Rio de Janeiro, no Rock in Rio, comemorando a segunda passagem da banda pelo festival.
Capa do novo álbum do Faith No More - "Sol Invictus"

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