terça-feira, 11 de novembro de 2014

THE ENDLESS RIVER: A VOLTA E O FIM DO PINK FLOYD

Por Gustavo Torres.

      Já se passam 20 anos desde o lançamento de "The Division Bell", último álbum de estúdio do Pink Floyd (considerada por muitos a maior banda de rock progressivo da história da música). De lá pra cá, o grupo lançou o seu último registro ao vivo, o duplo "Pulse", somados a diversos álbuns solos de David Gilmour, um instrumental de Richard Wright, "Broken China" de 1996, e um livro de Nick Mason, "Inside Out: A Personal History of Pink Floyd" de 2004, no qual relata de uma forma bem particular os longos anos de estrada da banda inglesa. Roger Waters, como muito fãs do Floyd sabem, não participa de nada que a banda faz desde meados dos anos 1980 quando resolveu levar o polêmico nome da banda ao âmbito jurídico, colocando Gilmour e cia dentro de um processo sobre a propriedade do nome Pink Floyd que durou longos anos na justiça. Gilmour, Wright e Mason conseguiram ser proprietários do nome e continuaram com álbuns de sucesso de vendas e turnês como os shows de "Pulse" que entraram no livro de recordes do Guiness. Os anos se passaram, algumas feridas foram cicatrizadas (vide a reunião da banda no Live 8, de 2005 e na última turnê de Roger Waters, "The Wall", no qual Waters convidou no show de Londres, em 2011, Gilmour na guitarra e voz e Nick Mason na bateria para execução do clássico "Comfortably Numb"), mas o retorno com Waters não aconteceu. Talvez essa reaproximação dos dois integrantes do Pink Floyd atual com Waters tenha ligação direta com a fatídica morte de Richard Wright, vítima de um câncer em 2004. 

   Após a grande perda do amigo, Gilmour e Mason acharam diversas sobras de gravações de Wright e decidiram reuni-las para o lançamento de um último álbum, "The Endless River", lançado dia 10 de novembro de 2014 que conta com as gravações de Rick Wright na época que a banda moldava "The Division Bell" somadas as guitarras, baterias e sintetizadores do resto da banda que auxiliava o Floyd nos anos 1990. 
    Com um conceito de trilha sonora, totalmente instrumental, o novo álbum mostra logo na primeira faixa, "Things Left Unsaid", um começo com múrmurios no melhor estilo do clássico álbum "The Dark Side Of The Moon", misturados com o teclado de Wright e a slide guitar onírica de Gilmour, tudo isso com influências de melodias da música indiana. Seguida pelo belo fraseado de guitarra de Gilmour na segunda faixa, "Is What We Do", o disco vai ganhando corpo, mas continuando sempre no conceito instrumental acentuado pela delicada "Ebb And Flow", terceira faixa onde o tecladista Wright toma conta de toda a canção. No melhor estilo de álbuns cultuados do grupo, como "A Saucerful Of Secrets" ou "Meddle", a canção "Sum" (quarta do álbum), traz os sintetizadores floydianos com a guitarra rasgada de Gilmour levando o ouvinte direto pro clima setentista, década que consagrou o grupo. A viagem sonora só aumenta com as viradas de bateria de Nick Mason na faixa seguinte, "Skins", levando o ouvinte agora no clima que mistura um afrobeat com pitadas de rock psicodélico. Em "Anisina", o talento de Wright é nitidamente percebido em uma melodia delicada e ao mesmo tempo forte, fazendo com que os remanescentes da banda dispensassem colocar qualquer tipo de letra, colocando apenas a guitarra e um sax para valorizar ainda mais a canção. O álbum segue em nuances melódicas até chegar na faixa 14, "Talkin' Hawkin", que tem frases do cientista Stephen Hawking como: "Speech has allowed the communication of ideas/Enabling human beings to work together/ To build the impossible/Mankind's greatest achievements"./ (Discurso tem permitido a comunicação de ideias/Habilitando os seres humanos a trabalhar juntos/Para construir o impossível/Maiores conquistas da humanidade).O Pink Floyd já tinha usado a voz de Hawking na canção "Keep Talking" no álbum "The Division Bell".

  "Louder Than Words"
 fecha o álbum, além de ser o primeiro single de trabalho é a única canção com letra, escrita por Polly Samson, esposa de David Gilmour que já contribuíra com outras letras do último álbum de estúdio da banda. A canção tem frases que simbolizam bem as histórias de briga e amizade que permeiam toda a história da banda além de trechos que homenageiam Rick Wright: 
“With world weary grace /We’ve taken our places /We could curse it or nurse it or give it a name /Louder than words /this thing that we do”(Com a graça de um mundo cansado/ Nós tomamos nossos lugares/ Nós poderíamos amaldiçoá-lo ou cuidar dele e dar-lhe um nome.../ ...É mais alto que palavras/Essas coisas que fazemos... / "The strings bend ans slide/As the hours glide by/ An old pair of shoes/ Your favorite blues/ Gonna tap out the rhytm/ Let's go with the flow/ Wherever it goes/ We're more than alive" (As cordas dobram e deslizam/ Um velho par de sapatos/ Seu blues favorito/ Vai tocar o ritmo/ Vamos com o fluxo/ Aonde quer que ele vá/ Nós estamos mais do que vivos).
    Se para o antigo cérebro da banda, Roger Waters, o lançamento desse álbum não tem relevância, podemos então sonhar que o fundador do Pink Floyd, Syd Barret (falecido em 2006), esteja feliz no céu com seu amigo Rick Wright olhando para baixo satisfeito em saber que a obra do Pink Floyd se tornou para o mundo um "rio interminável".

Capa do álbum "The Endless River" do Pink Floyd






O vídeo promocional da canção "Louder Than Words",homenagem ao tecladista Richard Wright, vítima de um câncer em 2008.


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